sexta-feira, dezembro 16, 2005

Era algo eterio

Era algo etéreo, inatingível e absoluto como um mar vibrante e infinito que nos absorve e consome peça por peça, célula por célula até não sermos mais do que simples palpitações de um momento congelado e único de intransigente confusão. Um vórtice alvo e infinito em que tudo o que somos se transforma e regenera até ser finalmente destruído na insondável e perpétua singularidade do fim que desejamos nunca chegar.

Talvez fosse o vento frágil, esta brisa conspurca e ignóbil bruxuleante que percorria cada vaso da minha mente distorcida pelo abraço febril e ebóreo dum segundo incendiado pelo líquido flamejante e ardente de tudo o que conheci. “Sim, vivo muito sobre o peso inolvidável de cada vaca que carreguei... pois em cada ombro de um pastor nobre e gentil existe aquela besta grosseira de um animal que jaz no inevitável trajecto do seu Destino”.

Ah, sim, a memória do meu avô bêbedo e seco, escurecido pelo árduo trabalho de uma vida de currais doentios e imundos como os cantos podres, mórbidos, perdidos da nossa alma.

(continuem a história)

texto encontrado numa máquina da faja